Olá! Adolescentes e crianças, por favor: parem a leitura deste texto por aqui. O texto expressa conflitos profundos entre dois personagens, pai e filho: há aquilo que primeiro se deva entender para que depois se possa entender conflitos como os de que trata o texto. Se for o caso, por favor, pare a leitura por aqui: tudo no Mais Elevado Espírito. Último ponto para parar a leitura por aqui.
-Fala pra mim: em que mundo você vive? Fala pra mim!
Antes que o filho começasse a tentar responder, o pai emendou:
-499 reais! Quatrocentos e noventa e nove reais (separando claramente as palavras e dando tapas na mesa, e levantando-se da cadeira a seguir) que NÃO PRECISARIAM TER SIDO GASTOS!
-Você sabe? Você sabe o quanto eu tenho de trabalhar para ganhar este valor? (Sentando-se novamente e tirando uma caneta do bolso, fez rapidamente um cálculo no primeiro papel que viu à frente) Aqui: um dia e meio! Um dia e meio jogados fora pela tua desatenção!
-Mas pai, eu não vi...
-Uma pedra daquele tamanho no meio da rua, e você não viu... Não viu, e ainda passou com o pneu do carro por cima da pedra.
-Mas, pai, eu... tava a 40 por hora, mantive a direção e parei o carro (disse, assustado, o filho).
-A questão não é esta: desatenção (disse o pai, separando as sílabas de "de-sa-ten-ção"), e 499 reais que não precisariam ter sido gastos. Olha aqui: você teria este dinheiro se fosse para você pagar?
Não... (respondeu o filho, enquanto se afastava do pai). Mas eu pego emprestado com a minha mãe.
-E vai pagar à sua mãe como? Pegando emprestado comigo, por um acaso, para pagar a ela?
-Quando as coisas derem certo comigo, eu pago...
-Ah, "quando as coisas derem certo"... Fala pra mim: em que mundo você vive? Acorda, e vai procurar um emprego!
-Mas pai, eu trabalho...
-E o que você faz? O que você faz é voluntariado, não é trabalho.
-O fato é que eu tenho de estar lá, pai (disse o filho, tentando encontrar convicção).
-Pois arrume outra pessoa para estar lá, e você vai trabalhar.
-Mas... pai, um dos motivos de eu ter deixado o meu trabalho é que eu tinha de estar lá, pai (disse o filho, com descontentamento).
-Já vi que não tem conversa (disse o pai). Faz o seguinte: eu vou trocar este pneu porque eu preciso viajar amanhã cedo; amanhã cedo eu saio para viajar. E você, para procurar um emprego: do contrário, as fechaduras de casa vão ter sido trocadas quando eu tiver chegado. Dizendo isto, pegou as chaves e os documentos do carro, e saiu. O filho, sem palavras, sairia minutos depois do pai.
O pai, dirigindo agressivamente, levou o carro à oficina especializada em pneus, de um antigo conhecido. E, lá chegando, foi recebido com um sorriso, ao qual imediatamente o conhecido (não se viam há um bom tempo) emendou: "Não, não precisa me dizer nada"
-Pois é (disse o pai): as coisas não vão bem mesmo. Você já percebeu.
-Seja o que for, esquece isto um pouco (disse o velho conhecido): deixa o carro aí e vamos tomar um café.
-Precisa trocar o pneu dianteiro esquerdo (disse o pai ao amigo): da mesma marca e do mesmo modelo, 499 reais, vi no seu anúncio. Você me parcela isto?
-Claro. Vamos tomar um café (disse o amigo, deixando a ordem de serviços com o responsável). E foram os dois falar da vida que se leva.
-Me separei da minha esposa, tou com um monte de problemas por fora, e se não bastasse isto, O diretor-executivo ainda chamou todo mundo e disse que estão insatisfeitos com os resultados, e que vão trocar a equipe inteira se isso não mudar; e, quando pedi a palavra para dizer o quanto e como tinha sido difícil conseguir estes resultados nestas condições, ele olhou para mim, só disse: "a equipe inteira", virou as costas e saiu. O dinheiro não tá dando, e apertam ainda mais o que já está começando a necrosar de tanto que apertam... Você sabe...
-Sim, eu sei (disse o amigo).
Enquanto isto, o filho caminhava pelas ruas sem saber ao certo onde ir, uma vez que aquelas atitudes e palavras do pai realmente o deixaram desorientado. Sentindo muito tudo aquilo, e atormentado pela dúvida acerca do que até há pouco era tão certo, pensou, ao esperar para atravessar aquela via movimentada e de tráfego insano: "Fechar os olhos e não chegar do outro lado".
Chegou a fechar os olhos, porém refletiu sobre o efeito que "não chegar do outro lado" teria sobre pessoas as quais gostavam dele, e mesmo sobre pessoas para as quais ele era importante e nem sabia. Decidiu esperar pelo sinal verde, e assim, chegou ao outro lado da rua. E, dali, foi para uma praça a qual ficava a alguns quarteirões do ponto onde estava. "Fala pra mim: em que mundo você vive?" permanecia ainda sem resposta. Pensou-se inadaptado à vida, inapto ao "mundo real", e coisas do tipo. Porém, percebeu um sentido em sua existência, o qual vinha das pessoas. Sentou-se no
banco da praça e fez uma silenciosa oração, na qual disse tudo.
Na oficina especializada em pneus, o responsável entregava o serviço concluído. O amigo pegou o pneu que fora retirado, e observando-o, perguntou ao pai: "Você vai viajar para onde amanhã cedo?"
-Vou para Santanápolis do Sul.
-É perto, mas você sabe que é uma estrada de grandes buracos. Vai com cuidado (disse o amigo). Entregando o pneu ao pai, falou: "Agradece. Calcule a probabilidade de uma bolha destas aqui estourar quando se passa por um buraco igual aos da estrada de Santanápolis do Sul: você sabe, a pressão tende a sair por onde ela encontra menor resistência.
-Com licença, preciso fumar um cigarro (disse o pai, abaixando a cabeça e virando-se em direção
à porta da oficina. Encontrou não muito longe dali um lugar, sentando-se no meio-fio. cotovelos apoiados nas pernas e colocando as mãos entre os cabelos). Enquanto acendia o segundo cigarro com a brasa do primeiro, passou por ali um carro tocando uma música da qual se ouvia os versos "Desculpe, estou um pouco atrasado; mas espero que ainda dê tempo de dizer que andei errado, e eu entendo". Foram mais seis cigarros de reflexões profundas: nem ele mesmo se lembrava da última vez em que havia chorado. Pegou o telefone celular e tentou ligar para o celular do filho. O filho não atendeu. Resolveu então enviar uma mensagem de texto: "Fui homem para fazer o que eu queria, do jeito que eu queria. Sou pai, tenho este dever: preciso te dizer que errei, e que aprendi, e também te ensinar o que aprendi". à mensagem, o filho respondeu com outra mensagem: "Em meia hora estou em casa". O pai, retornando à oficina, pegou o carro e disse ao amigo que passava depois para acertar, ao que o amigo respondeu: "sem pressa". Em vinte minutos, o pai estava em casa. E, quando o filho abriu a porta, imediatamente disse o pai: "Errei". O filho o abraçou, e choraram juntos. E o pai começou a falar de seus erros. Disse: "Não era ela a errada, hoje eu sei. Pra falar a verdade, não é de hoje que eu sei. Um dos motivos da nossa separação, talvez o principal, foi justamente este: o lugar para onde meu dinheiro ia. Eu considerava que eu bancava a casa, e era homem: logo pensava não dever satisfação nenhuma à sua mãe. Realmente, para lá vai boa parte do meu dinheiro. Você nunca soube, mas faz um bom tempo que é assim. Ao menos até aqui foi assim". O filho ouviu em silêncio, e disse: "Ela não está com ninguém". O pai completou: "A vi por estes dias. Está muito mais bonita do que quando estava comigo. Era eu, e não ela: faz este favor pra mim: conta pra ela o que você me viu fazer". "Tá bom", disse o filho. E começaram a falar da vida que se leva. "Amanhã vou chegar um pouco atrasado ao evento em Santanópolis do Sul: vai estar todo mundo da empresa lá, eu aproveito para anunciar discretamente a minha demissão. Quem faz o que eu faço e como eu faço, filho, não fica parado. Se nem conversam comigo, por que empregar meu melhor por eles? Me perdoa, filho, pelo mundo no qual eu vivia. Pelo menos por uns dois dias, eu quero conhecer o mundo em que você vive. Quem sabe a gente não consegue profissionalizar a gestão sem a perda do caráter da iniciativa? Fala pra mim: será que um dia a gente consegue que não haja mais?". Um abraço!
quarta-feira, 27 de junho de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
Efeito-estufa, estufa e algumas reflexões
Olá! Conforme escrevi na postagem datada de 18 de maio, muitas das questões as quais, em nossos dias, têm provocado preocupação, medo e pânico nas pessoas estão relacionadas ao meio ambiente. E, dentre estas questões, talvez a principal seja a relativa ao efeito-estufa, o qual seria, conforme o pensamento mais aceito pela maioria das pessoas, determinante para um cenário de alterações climáticas prejudiciais ao equilíbrio ecológico do planeta Terra tal como o conhecemos. Segundo a Nova Enciclopédia Ilustrada Folha, efeito-estufa é o “fenômeno de isolamento térmico do planeta por efeito da presença de certos gases provenientes da queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo), florestas e pastagens. Os gases causadores do efeito estufa – principalmente o dióxido de carbono, mas também o metano, o ácido nitroso e clorofluorcarbonetos (CFCs) – mantém o calor proveniente do Sol, de forma semelhante ao vidro de uma estufa, permitindo que a energia luminosa penetre na atmosfera e impedindo que a radiação proveniente da superfície aquecida do planeta se dissipe. A maioria dos gases causadores do efeito estufa ocorrem naturalmente na atmosfera terrestre (o metano, por exemplo, é produzido na decomposição da matéria animal e vegetal), e sem eles não haveria vida no planeta (...)”. Sobre este último ponto, creio que nos caiba também considerar todos os mecanismos de retenção de calor pela superfície da Terra: por exemplo, e um dos exemplos, o papel dos mares neste particular). Vejamos agora algo sobre a estufa, também da Nova Enciclopédia ilustrada Folha: “Edificação de vidro ou plástico transparente sustentada por uma leve estrutura de madeira ou metal, utilizada para fazer com que as plantas cresçam mais rapidamente através do controle artificial da temperatura, ou para cultivar plantas que não floresciam no clima local. As estufas fornecem o máximo de luz possível para uma área fechada e tendem a reter calor (...)”.O fundamento da definição do efeito-estufa é a analogia entre a ação desta massa de gases (principalmente o dióxido de carbono, mas também o metano, o ácido nitroso e os CFCs) e a ação do plástico ou vidro transparente de uma estufa quanto ao seu papel relativamente à retenção de calor. Aqui, neste particular, podem ser aplicadas, para análise da validade da aplicação da metáfora da estufa, a Regra I e Regra II das “Regras de Raciocínio em Filosofia” propostas por Isaac Newton em “Princípios Matemáticos de Filosofia Natural”. Regra I: “Não devemos admitir mais causas para as coisas naturais do que as que são verdadeiras e suficientes para explicar suas aparências”; Regra II: “Portanto, aos mesmos efeitos naturais temos de atribuir as mesmas causas, tanto quanto possível”. A partir destes princípios, analisemos a metáfora da estufa e de sua aplicação ao princípio do efeito-estufa. Listemos prováveis causas as quais podem ser verdadeiras e suficientes (basta a admissão de uma delas para tal). Pois bem: para que a hipótese da reflexão do calor por tal massa de gases seja aplicável, seria necessário que tanto o material de que é feita a estufa (vidro ou plástico transparentes) quanto a massa de gases (principalmente o dióxido de carbono, mas também o metano, o ácido nitroso e CFCs): 1) atuassem analogamente a um semicondutor (grosso modo, um semicondutor permite a passagem da energia em apenas um sentido, e não no sentido oposto), permitindo que a radiação solar atravesse tal massa no sentido Sol-Terra, e, uma vez refletida pela superfície terrestre, não permitisse a passagem desta radiação no sentido Terra-espaço exterior à Terra; 2) a radiação solar sofresse alguma alteração ou fracionamento ao ser refletida pela superfície da Terra, de forma a justificar a não reflexão de uma determinada fração desta radiação no sentido Sol-Terra e a reflexão hipotética de uma fração (ou mais frações) desta radiação no sentido Terra-espaço exterior à Terra (a camada de ozônio, por exemplo, reflete frações da radiação solar antes que estas cheguem à superfície da Terra, porém não atua analogamente a um semicondutor: as refletem antes que estas cheguem à superfície da Terra ; 3) ou outra hipótese a qual indique a reflexão, por esta massa de gases, de calor em uma de suas formas de propagação (ou, como indicam algumas fontes, “reflexão de radiação infravermelha”). Segundo os princípios indicados, para que a metáfora da estufa seja válida tal deve se dar tanto pelo plástico ou vidro transparentes da estufa quanto pela massa de gases; do contrário, não se poderiam considerar verdadeiros os fundamentos da utilização da metáfora da estufa, por insuficiência de causas verdadeiras para justificar a semelhança: a confirmação de uma das hipóteses levantadas bastaria para explicar a metáfora; do contrário, seria inválida a utilização da metáfora da estufa. Sobre a estufa, consideremos que esta constitui uma área fechada, não permitindo, em circunstâncias normais, que o ar aquecido no interior da estufa siga a sua tendência natural de deslocamento - uma vez que é nisto limitado pelo teto e pelas laterais da estufa (pode-se verificar o mesmo princípio aqui: um automóvel o qual permanece por um tempo com os vidros totalmente fechados e exposto ao Sol – notar que alguns veículos com mecanismo de acionamento elétrico dos vidros proporcionam a possibilidade de estes permanecerem ligeiramente abertos para que o ar aquecido, seguindo sua tendência natural de deslocamento - grosso modo, “ar quente sobe; ar frio desce” - possa sair; também são encontrados no mercado sistemas de exaustão do ar do interior do veículo, a serem utilizados quando o automóvel permanece exposto à radiação solar, tornando, desta forma, um pouco mais agradável a temperatura em seu interior. Sendo assim, pode-se dizer que a tendência de uma estufa a reter calor decorre de sua capacidade de manter coesa uma massa de ar aquecida, impedindo que esta se desloque; e, a partir deste raciocínio, poderia-se supor ainda uma outra forma de atuação para tal massa de gases, de forma que seja válida a metáfora da estufa: impedir que uma massa de ar aquecido se desloque, seguindo sua tendência natural, para maiores altitudes atmosféricas, tal como o fazem o plástico ou o vidro transparentes da estufa (não saberia dizer, neste momento, se uma massa de gases teria esta propriedade relativamente a outra massa de gases, desconsideradas aqui hipotéticas diferenças de pressão atmosférica entre as altitudes atmosféricas nas quais se posicionariam a referida massa de gases e a massa de ar aquecido. Agora, uma consideração importante: observando um dia nublado, me pareceu que a metáfora da estufa seja mais aplicável ao que ocorre em um dia nublado (aumento de temperatura, aumento da umidade relativa do ar, e outros fatores – porém, no caso de um dia nublado, muitas variáveis explicam cada um destes fatores e o efeito do conjunto destes: sou leigo na área) do que a um fenômeno de retenção de calor; e, deste modo, seria verificado na utilização da metáfora da estufa mais um apelo direto a uma determinada sensação do que de argumentos os quais falem à razão das pessoas, estes indispensáveis, em minha opinião, para que se possa proceder à correta análise de uma questão complexa e importante como esta, a qual potencialmente afeta a todos nós. Há de se considerar ainda um segundo ponto: a permanente “satanização” das pessoas as quais adotam uma posição divergente a respeito do comumente aceito nesta questão. Considerando os dois pontos indicados (apelo direto mais a uma sensação que à razão e permanente “satanização” da divergência), e a questão “efeito-estufa” e tudo o que ela representa, surge talvez o imperativo da aplicação do Método da Dúvida de René Descartes: a suspensão do julgamento a respeito de toda crença ou convicção até que possa ser mostrado que ela deriva sistematicamente de crenças mais certas. Diante da aplicação do Método da Dúvida, pode-se argumentar: “mas a vida na Terra não dispõe de tempo para esperar: as geleiras, por exemplo, estão derretendo” (talvez, a partir da noção de “albedo”, caibam considerações para explicar o que ocorre com as geleiras: “albedo é a percentagem da radiação incidente refletida por uma superfície sem que esta se aqueça. No caso da radiação solar refletida pela Terra e sua atmosfera o albedo é de aproximadamente 36%, o que significa que 36% da energia solar é refletida diretamente de volta ao espaço” - Nova Enciclopédia Ilustrada Folha. Alterações na cobertura vegetal do Planeta Terra, notadamente no relativo às florestas, talvez poderiam se refletir em uma sensível alteração no percentual de albedo – talvez! - fazendo com que uma fração da radiação solar a qual seria refletida por esta cobertura vegetal incida diretamente sobre o solo ou sobre uma outra cobertura vegetal a qual não teria a mesma capacidade de refletir a radiação solar como o teriam, por exemplo, as florestas. E uma vez tendo uma maior superfície exposta à radiação solar – cabe considerar, por exemplo, que no Brasil apenas 0,2% da área total de superfície são ocupadas por cidades e por obras de infraestrutura - acredito, alteraria regimes de ventos, por exemplo e um dos exemplos aqui possíveis - se poderia indicar uma proto-hipótese para explicar o derretimento de geleiras, caso tais considerações aqui apresentadas tenham fundamento – e, se realmente tiverem fundamento, tal indica que temos de olhar com mais cuidado para estas questões). Particularmente, diria que, a respeito, tenho as minhas convicções, e a partir destas diria não haver motivo para pânico: há, sim, motivos de sobra para que atentemos às questões que se colocam: porém não vejo razões para pânico. Contudo, e ao menos até que se prove o contrário, minhas convicções são apenas minhas convicções. Um abraço!
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Cidadania, meio ambiente, sacolinhas plásticas e pessoas
Olá! Muitas das questões as quais, em nossos dias, têm provocado preocupação, medo e pânico nas pessoas estão relacionadas ao meio ambiente. Considerando que o Ocidente apresenta, em seus fundamentos culturais, uma doutrina de medo e culpa, pode-se visualizar ao quanto desta culpa e deste medo se recorre quando se trata de questões como estas, as quais afetam a todos. E, também, o quanto do que é dito, ensinado e demonstrado (neste particular) às pessoas, não recorre à razão das pessoas: antes, a outras instâncias decisórias mais facilmente atingíveis quando se visa a que as pessoas se comportem conforme se quer que estas se comportem. E creio, ainda, não ser este o único caminho possível relativamente a tais questões, e tampouco o melhor a ser adotado, considerando-se o que poderia advir da manutenção de tal método. Inicialmente, deve-se considerar que surgem outras perspectivas acerca do tema, as quais passam ao largo do medo e da culpa fundamental (e do que destes decorre), contudo não deixam de contemplar a responsabilidade a qual nos cabe no relativo ao assunto (se ainda não devidamente incorporadas ao cotidiano das pessoas, reconheço, talvez possamos dizer que, pacientemente, sistematicamente e persistentemente, por meio de ações coordenadas e visando tão somente à solução ou encaminhamento dos problemas, atingiremos o ponto ao menos aceitável para tais questões) . Partindo daqui a um tema mais específico,, abordarei de forma geral a questão das sacolinhas plásticas, da relação destas com o problema ambiental e com questões relativas à cidadania e às pessoas. Desde o final de janeiro deste ano, foi lançada uma campanha para abolir o uso das sacolas plásticas quando das compras, pelo consumidor, em supermercados, e o fundamento de tal campanha é exatamente a relação entre as sacolas plásticas e o meio ambiente, partindo-se do princípio de que não há alternativa que não esta. A maioria das pessoas acabou aderindo, dada a força e a imponência do edifício ideológico que sustenta tal campanha. E mesmo que, em algumas cidades, tenham sido editadas leis as quais obrigam os estabelecimentos a fornecerem as sacolinhas (aqui onde moro há Lei Municipal neste sentido), continua-se a não fornecê-las, em boa parte por conta de um consenso admitido pelas pessoas em torno do tema. Tentarei demonstrar que ninguém precisa se sentir culpado ao acionar os órgãos fiscalizadores visando ao cumprimento destas leis: pelo contrário. O item “sacolas plásticas” representa para o setor uma despesa anual de R$ 200 milhões (não disponho agora da referência sobre se tal valor é relativo à região onde moro ou ao Estado de São Paulo inteiro), já repassada ao consumidor final. Deste modo, a não utilização das sacolinhas adiciona, grosso modo, uma receita de R$ 200 milhões ao setor (nos termos de indicação anterior), diante da qual se pode perguntar se tal receita se refletirá em queda no preço final dos produtos ou em apenas aumento de lucratividade. Deve-se considerar que a atividade econômica relativa às sacolinhas emprega cerca de 30 mil pessoas: deste modo, o aumento de um lado se refletirá em perda de outro (também grosso modo, o “ônus de externalidade negativa” o qual incide sobre a atividade das sacolinhas, e consequentemente, sobre boa parte das pessoas nesta empregadas).
Falemos, agora, do “edifício ideológico” o qual sustenta a adesão das pessoas a tal iniciativa. Os fundamentos de tal edifício são uma doxa (palavra grega que significa crença comum ou opinião popular) a qual elegeu as sacolinhas plásticas como ícone de uma cultura a ser combatida (a cultura dos “descartáveis”, a qual ganhou força a partir da segunda metade do Século 20; inicialmente, nada contra: a questão é mesmo complexa e deve ser analisada em profundidade e amplitude, a partir de argumentos os quais se sustentem à luz de tudo o que se sabe; neste ponto, em minha opinião, começa o problema). Fica claro que deixar de usar as sacolinhas é desejável a um dos lados, por conta do anteriormente exposto; porém, e considerando que há um tempo as sacolinhas estão presentes na vida das pessoas (sim, são úteis; dos problemas relacionados a elas, falo mais abaixo), não seria possível o sucesso de tal medida sem a adesão das pessoas. Considerando o exposto acima, obtém-se esta adesão a partir do seguinte mecanismo (créditos não meus, e estrutura aplicável, infelizmente, a muito – bem, bem longe de ser a tudo, ressalto): cria-se uma doxa (crença comum ou opinião popular); sobre tal crença comum se levanta um edifício ideológico (na construção do “edifício” ao qual me refiro aqui, notar notar a farta utilização de “materiais” os quais recorrem diretamente a sensações, sentimentos e análogos, em detrimento de argumentos os quais falem diretamente à razão das pessoas; exemplos: fotografias de animais enroscados em sacolas plásticas – volto a falar disto -, um ícone do planeta Terra como que “sufocado” por um filme plástico o qual lembra o de que são feitas as sacolas plásticas, de forma a canalizar, assim, menos a razão das pessoas que outras instâncias a serem consideradas na análise de uma questão assim complexa), e, por fim, e principalmente, sataniza-se as pessoas as quais adotam posição divergente a tal doxa: um exemplo disto é que, nos dias os quais se seguiram ao início da aplicação da estratégia em larga escala, utilizou-se o termo “insensibilidade ao problema ambiental” para qualificar as pessoas que, de alguma forma, discordavam de tal medida (o que, dado o cenário atual, seria uma pecha a qual ninguém gostaria de ostentar; deste modo, caminho quase livre para o sucesso da iniciativa pretendida). E, de fato, a maioria das pessoas acabou acreditando que a definitiva não utilização das sacolinhas é a única solução possível para se lidar com a questão. Tenciono, aqui, demonstrar tanto não haver esta insensibilidade em todas as pessoas (recorrer ao maniqueísmo turva a qualidade do debate), quanto haver outras perspectivas a serem adotadas acerca deste tema, sem deixar de contemplar a lógica do desenvolvimento sustentável. Partamos, assim dos três “R”s do desenvolvimento sustentável: reduzir, reutilizar, reciclar. Sacolinhas soltas no meio ambiente são um problema? Sim. A indústria das embalagens tem apresentado alternativas de menor impacto ao meio ambiente? Sim. A coleta seletiva de lixo funciona adequadamente na maioria das cidades? Não. Desta forma, poderia-se pensar no seguinte: sacolinhas que trazem impressas, nas cores aplicáveis à coleta seletiva, instruções simples sobre a necessidade de separação do lixo, para a destinação do qual se usaria a própria sacolinha em questão; deste modo, com um programa cuidadosamente planejado e adotadas a educação e a instrução, as sacolinhas seriam reutilizadas (para a destinação do lixo na coleta seletiva) e poderiam, também com o desenvolvimento do que for necessário, ser recicladas (ressalte-se ainda que, segundo esta lógica, seria sensivelmente diminuída a quantidade de “sacolinhas soltas” no meio ambiente). E chegamos a um ponto importante: a redução no volume de sacolinhas utilizadas, dada a possibilidade de um número de pessoas optarem por não utilizá-las, enquanto outro número de pessoas opta por utilizar menos (por exemplo, em compras pequenas, ou quando se parte de casa, usa as sacolas permanentes; em outras situações, as sacolinhas). Assim (e considerado o que tal lógica demanda, o que não seria talvez um desafio impossível, dada a preocupação com o tema), seria garantida tanto a liberdade de escolha por parte das pessoas quanto a contemplação dos “Três ‘R’s” (reduzir, reutilizar, reciclar), em harmonia com os princípios do desenvolvimento sustentável; e também seriam preservados os empregos de cerca de 30 mil pessoas (as quais trabalham na atividade relacionada às sacolinhas) e criados muitos outros por meio da implantação de coleta seletiva eficiente de lixo, bem como o manejo adequado desta questão do ponto de vista ambiental. Fica demosntrado, desta forma, que há alternativas para se lidar com a questão, contemplando o desenvolvimento sustentável, a cidadania e as pessoas. Porém, há algo ainda que me preocupa. Se a maioria de nós adota (por conta do exposto) a postura de abdicar da cidadania relativamente a uma questão referente a uma relação de consumo, quais perspectivas se desenham no horizonte no que diz respeito a outras relações? Cidadania é imprescindível, e, neste particular, ninguém precisa se sentir culpado (vide o exposto neste texto) por recorrer ao legalmente previsto. E, por último, a partir da iniciativa relativa às sacolinhas, se pode começar a questionar uma forma de pensamento (econômico, gerencial, e o mais aplicável) e os efeitos que a manutenção de tal forma de pensamento trazem sobre o meio ambiente, a cidadania e a vida das pessoas. Valhamo-nos também da razão, e de tudo o que se sabe sobre um determinado assunto. Sim, a questão é complexa e não se encerra aqui: espaço aberto à divergência. Um abraço!
Falemos, agora, do “edifício ideológico” o qual sustenta a adesão das pessoas a tal iniciativa. Os fundamentos de tal edifício são uma doxa (palavra grega que significa crença comum ou opinião popular) a qual elegeu as sacolinhas plásticas como ícone de uma cultura a ser combatida (a cultura dos “descartáveis”, a qual ganhou força a partir da segunda metade do Século 20; inicialmente, nada contra: a questão é mesmo complexa e deve ser analisada em profundidade e amplitude, a partir de argumentos os quais se sustentem à luz de tudo o que se sabe; neste ponto, em minha opinião, começa o problema). Fica claro que deixar de usar as sacolinhas é desejável a um dos lados, por conta do anteriormente exposto; porém, e considerando que há um tempo as sacolinhas estão presentes na vida das pessoas (sim, são úteis; dos problemas relacionados a elas, falo mais abaixo), não seria possível o sucesso de tal medida sem a adesão das pessoas. Considerando o exposto acima, obtém-se esta adesão a partir do seguinte mecanismo (créditos não meus, e estrutura aplicável, infelizmente, a muito – bem, bem longe de ser a tudo, ressalto): cria-se uma doxa (crença comum ou opinião popular); sobre tal crença comum se levanta um edifício ideológico (na construção do “edifício” ao qual me refiro aqui, notar notar a farta utilização de “materiais” os quais recorrem diretamente a sensações, sentimentos e análogos, em detrimento de argumentos os quais falem diretamente à razão das pessoas; exemplos: fotografias de animais enroscados em sacolas plásticas – volto a falar disto -, um ícone do planeta Terra como que “sufocado” por um filme plástico o qual lembra o de que são feitas as sacolas plásticas, de forma a canalizar, assim, menos a razão das pessoas que outras instâncias a serem consideradas na análise de uma questão assim complexa), e, por fim, e principalmente, sataniza-se as pessoas as quais adotam posição divergente a tal doxa: um exemplo disto é que, nos dias os quais se seguiram ao início da aplicação da estratégia em larga escala, utilizou-se o termo “insensibilidade ao problema ambiental” para qualificar as pessoas que, de alguma forma, discordavam de tal medida (o que, dado o cenário atual, seria uma pecha a qual ninguém gostaria de ostentar; deste modo, caminho quase livre para o sucesso da iniciativa pretendida). E, de fato, a maioria das pessoas acabou acreditando que a definitiva não utilização das sacolinhas é a única solução possível para se lidar com a questão. Tenciono, aqui, demonstrar tanto não haver esta insensibilidade em todas as pessoas (recorrer ao maniqueísmo turva a qualidade do debate), quanto haver outras perspectivas a serem adotadas acerca deste tema, sem deixar de contemplar a lógica do desenvolvimento sustentável. Partamos, assim dos três “R”s do desenvolvimento sustentável: reduzir, reutilizar, reciclar. Sacolinhas soltas no meio ambiente são um problema? Sim. A indústria das embalagens tem apresentado alternativas de menor impacto ao meio ambiente? Sim. A coleta seletiva de lixo funciona adequadamente na maioria das cidades? Não. Desta forma, poderia-se pensar no seguinte: sacolinhas que trazem impressas, nas cores aplicáveis à coleta seletiva, instruções simples sobre a necessidade de separação do lixo, para a destinação do qual se usaria a própria sacolinha em questão; deste modo, com um programa cuidadosamente planejado e adotadas a educação e a instrução, as sacolinhas seriam reutilizadas (para a destinação do lixo na coleta seletiva) e poderiam, também com o desenvolvimento do que for necessário, ser recicladas (ressalte-se ainda que, segundo esta lógica, seria sensivelmente diminuída a quantidade de “sacolinhas soltas” no meio ambiente). E chegamos a um ponto importante: a redução no volume de sacolinhas utilizadas, dada a possibilidade de um número de pessoas optarem por não utilizá-las, enquanto outro número de pessoas opta por utilizar menos (por exemplo, em compras pequenas, ou quando se parte de casa, usa as sacolas permanentes; em outras situações, as sacolinhas). Assim (e considerado o que tal lógica demanda, o que não seria talvez um desafio impossível, dada a preocupação com o tema), seria garantida tanto a liberdade de escolha por parte das pessoas quanto a contemplação dos “Três ‘R’s” (reduzir, reutilizar, reciclar), em harmonia com os princípios do desenvolvimento sustentável; e também seriam preservados os empregos de cerca de 30 mil pessoas (as quais trabalham na atividade relacionada às sacolinhas) e criados muitos outros por meio da implantação de coleta seletiva eficiente de lixo, bem como o manejo adequado desta questão do ponto de vista ambiental. Fica demosntrado, desta forma, que há alternativas para se lidar com a questão, contemplando o desenvolvimento sustentável, a cidadania e as pessoas. Porém, há algo ainda que me preocupa. Se a maioria de nós adota (por conta do exposto) a postura de abdicar da cidadania relativamente a uma questão referente a uma relação de consumo, quais perspectivas se desenham no horizonte no que diz respeito a outras relações? Cidadania é imprescindível, e, neste particular, ninguém precisa se sentir culpado (vide o exposto neste texto) por recorrer ao legalmente previsto. E, por último, a partir da iniciativa relativa às sacolinhas, se pode começar a questionar uma forma de pensamento (econômico, gerencial, e o mais aplicável) e os efeitos que a manutenção de tal forma de pensamento trazem sobre o meio ambiente, a cidadania e a vida das pessoas. Valhamo-nos também da razão, e de tudo o que se sabe sobre um determinado assunto. Sim, a questão é complexa e não se encerra aqui: espaço aberto à divergência. Um abraço!
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