Antes eu imaginava que era possível modificar um pensamento de uma pessoa pelo esclarecimento. "O Governo Lula editou cartilhas ensinando os jovens a usar crack". Milton Nascimento, "Travessia".

Redução de danos. A pessoa que usa crack neste momento usa crack neste momento e muitos deles usarão crack nos momentos seguintes. "É que por princípio não posso aceitar que pessoas usem crack". O crack animaliza. O crack impõe que aquele que usa agora use nos momentos seguintes. A realidade efetiva; neste momento, pessoas usam crack e muitos continuarão usando nos momentos seguintes. A questão é abordada a partir de dogmatismo religioso, e a virtude nesta época é fechar com um pensamento e não modificá-lo. Mesmo diante da verdade e da razão, o exercício da virtude estaria em não modificar o pensamento e perseverar neste pensamento; assim é desenvolvida fidelidade religiosa a um pensamento e a "virtude do crer" contra todas as evidências e contra todos os fatos contrários. A Religião de Deus não é lugar de dogmas. Verdade e Razão.

A questão é fazer uma "primeira revolução", conseguir que este uso de crack nestas circunstâncias tenha perigos manejados de modo a que esses perigos não causem muitos dos danos que causam; por isso redução de danos. Política de pedra zero. "Rompendo em fé", Comunidade da Zona Sul. Política de vedar a menores. Não se modifica uma realidade posta nestes termos de modo imediato ou a curto prazo. "Lento, gradual e seguro". Do uso ao não usar; da abstinência total como inegociável ao controle do uso como primeira revolução.